«Toda a bruxaria nasce da luxúria carnal, que nas mulheres [libertinas e viciadas no prazer sexual] é insaciável.»
Criado no séc. XV - 1486 por Heinrich Kramer e Jacob Sprenger (monges alemães), ambos membros da Ordem Dominicana e Inquisidores da Igreja Católica. O Malleus Maleficarum descrevia as relações carnais entre demônios e bruxas, não como um ato de amor, mas antes como um mero processo por via do qual um pacto demoníaco era firmado.
O Martelo das Bruxas e/ou Martelo das Feiticeiras (tradução para o português) tornou uma espécie de "manual contra a bruxaria". O livro foi amplamente utilizado pelos inquisidores por aproximadamente duzentos e cinqüenta anos, até o fim da Santa Inquisição, e servia para identificar bruxas e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las. A obra acabou sendo sancionada como um instrumento de inquisitório contra bruxarias e heresias, através da bula Papal Summis desiderantes affectibus promulgada a 5 Dezembro 1486 pelo Papa Inocêncio VIII.
Foi através desta histórica bula Papal, que a igreja reconhece a existência das bruxas e da bruxaria, assim como concedeu autorização para que os praticantes de bruxaria fossem perseguidos e eliminados. E assim, inaugurou-se a sangrenta caça ás bruxas que durou séculos e foi responsável por um autêntico genocídio de mulheres e homens em todas as latitudes do continente Europeu, chegando mesmo a afetar os inícios da história norte Americana.
Os três elementos fundamentais á concretização da bruxaria (sendo que cada parte subdivide-se em capítulos chamados de Questões) segundo o Malleus Maleficarum, são:
I - A existência de uma bruxa mal intencionada;
II - A ajuda do demônio na persecução das intenções da bruxa;
III - A permissão de Deus para que tais atos possam ocorrer O Malleus Maleficarum, é por isso um tratado sobre bruxaria, (identificando o fenômeno, assim como dissertando sobre os meios de o reprimir), que se encontra dividido em três seções, sendo estas:
I seção:
Ensina a reconhecer bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes alegando que a mesma é uma realidade que embora invisível é porem tangível e capaz de ter efeitos muito claros na vida das pessoas. Nesta seção, defende-se a existência do Diabo e toda a realidade demoníaca, afirmando que o demônio tem o poder de fazer grandiosos prodígios, assim como declarando que as bruxas existem para auxiliar os demônios a concretizarem os seus atos. É também esclarecida que terreno mais fértil e o mais poderoso favorecedor do poder do diabo é a sexualidade. Por isso, é afirmado que a mulher é mais passível de ser bruxa, pois o diabo tende a preferir corromper belas mulheres que gostam da ardência do prazer sexual. O vício sexual de belas mulheres é por isso a porta preferida do diabo para entrar neste mundo e recrutar as suas servas, ou seja: as bruxas. Assim, mulheres livres e libertinas tinham relações sexuais com o diabo, pagando dessa forma como seu corpo a entrada no reino infernal e tornando-se dessa forma bruxas, adquirindo o seu poder sobrenatural por via da carnalidade, comprando-o com uma forma de prostituição demoníaca. Citando o Malleus Maleficarum.
II Seção:
Descreve as formas de bruxaria que existem, assim como os remédios existentes para a combater classificando-os e explicando-os detalhadamente, e os métodos para desfazê-los. Nesta seção II do Malleus Maleficarum, os autores debruçam-se sobre a prática da bruxaria através da análise de casos concretos. Segundo esta seção, não é o Diabo que recruta diretamente as suas servas neste mundo, mas antes são as bruxas que desempenham essa tarefa pelo Diabo, ou ao serviço do demônio. As técnicas de recrutamento resumem-se a duas estratégias:
I - Fazer com as coisas corram de tal forma mal na vida de uma mulher, que ela é levada a consultar uma bruxa. Ao fazê-lo, cai na teia da bruxa, que assim a vai seduzindo, ou com as delicias do sexo, ou com o fascínio dos poderes das trevas, ate que a vitima se transforme numa bruxa por via da livre aceitação de um pacto demoníaco.
II - Introduzir jovens e belas mulheres, (servas do Diabo), ou belos demônios em forma humana na vida de uma mulher, de forma a fazê-la gradualmente cair da tentação carnal e subseqüentemente a ceder ao caminho das trevas.
III Seção - Destina-se a auxiliar os juízes inquisitórios na sua tarefa de identificar bruxas e combater o fenômeno da bruxaria. Uma introdução geral e trinta e cinco questões subdivididas, condicionam as formalidades para agir "legalmente" contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las e condená-las, tanto nos tribunais civis como eclesiásticos.
Os argumentos acusatórios são claramente expostos como um guia prático para consulta dos magistrados da * Santa Inquisição, facultando passo a passo um manual instrutório que diz como se realizar um processo de julgamento de uma bruxa, desde o momento da recolha de provas para fins da acusação formal sobre bruxaria, aos métodos de interrogatório da bruxa e testemunhas, ate à formulação da acusação e conseqüente julgamento.
“O Malleus Maleficarum é mais que um "código penal eclesiástico" utilizado na Idade Média; é um registro fiel do que foi parte do pensamento da Igreja Católica medieval, com uma imensa oposição à figura da mulher e um desejo ensandecido de manter a autoridade política, econômica e religiosa e, desse modo, de todo um contexto deste capítulo da história da humanidade”. SG
* A Santa Inquisição teve seu início no ano de 1184, em Verona, com o Papa Lúcio III. Em 1198, o Papa Inocêncio III já havia liderado uma cruzada contra os albigenses (hereges do sul da França), promovendo execuções em massa. Em 1229, sob a liderança do Papa Gregório IX, no Concílio de Tolouse, foi oficialmente criada a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício. Em 1252, o Papa Inocêncio IV publicou o documento intitulado Ad Exstirpanda, que foi fundamental na execução do plano de exterminar os hereges. O Ad Exstirpanda foi renovado e reforçado por vários papas nos anos seguintes. Em 1320, a Igreja (a pedido do Papa João XXII) declarou oficialmente que a Bruxaria, e a Antiga Religião dos pagãos constituíam um movimento e uma "ameaça hostil" ao cristianismo.