terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Absoluto

IV – Parte

"O diabo - se é permitido num livro de ciência empregar esta palavra desacreditada e vulgar - o diabo se dá ao mago e o feiticeiro se dá ao diabo”. (Eliphas Lévi)

O Conde Marax estava em seu escritório (na verdade era bem mais que um escritório, pois havia tantos livros sob sua mesa e também nas prateleiras espalhadas pelas quatros paredes que mais parecia com uma biblioteca) e revirava as páginas de um livro antigo intitulado “Lúcifer Prometeu”, quando quase sem fôlego entra pela sua porta Sallos e Baal.

Surpreso, Marax fitou os nos olhos em busca de uma resposta. Sallos empurrou uma pilha de livros e retirou do bolso algo que mais parecia uma carta e entregou a Marax. Cuidadosamente o Conde Marax abriu a carta, antes, porém examinou o brasão (na verdade se tratava de uma assinatura), ele tinha certeza que conhecia o símbolo de algum lugar, mas não se recordava de onde. Pegou rapidamente seu diário (ao qual anotava todas as informações há séculos), folheou algumas páginas e encontrou. Era de se esperar pensou em voz alta; depois de séculos o Duque Dantalion e sua amada a Duquesa do Sétimo Tormento resolveram entrar em contato.

Sallos sabia que era hora de deixar o Conde Medêo e aliar-se de vez por todas a Dantalion, mas seu disfarce de “servo mordomo” lhe garantiam um certo conforto. Portanto antes de aventura-se a procura de Marax (ao qual devia alguns favores), foi atrás de Baal, mas já era tarde ele estava prestes a descobrir quem era Stevenote von Audebert. E antes que descobrisse disse que era preciso acompanhá-lo até o vilarejo vizinho. Assim Sallo e Baal adentraram a casa de Marax naquela noite fria trazendo em duas pequenas bolsas suprimento para um mês, além da carta que continha informações precisas e necessárias para reunir novamente a ordem dos *«Abufihamat».

O Absoluto disse Marax está pronto. E será recebido com toda honra e glória. Abrindo uma brecha no Tempo, cavando um túnel na grande montanha do conhecimento de hoje e buscando um relance do futuro com fragmentos do passado o Absoluto está por vi. Temos que usar a linguagem secreta e tomarmos cuidado com nossas assinaturas (Marax referia-se ao achado que Baal comentara há pouco. Audebert era experta e estava próxima demais dos «Abufihamat»).

O importante é que devemos começar a aprender a manipular a mente dessa tal de Audebert e dos demais “intrometidos” e para isso Sallos você foi convocado, pois você é o especialista (referindo-se ao chamado inconsciente Coletivo). Mas ela é uma bruxa será que não podemos tê-la como nossa aliada? Perguntou Baal tentando entender qual seria seu papel naquela suposta reunião.

Sem dúvida nenhuma se pudermos trazê-la para perto ela servirá como “isca” para nossos propósitos respondeu Sallos. E não se esqueça que você tem um poder que não utiliza há anos, ou melhor, há séculos (poder da invisibilidade) ou já se esqueceu de que também é um demônio?

Deu-se um salto para trás e como mágica desaparecerá (ta certo que fora apenas um lampejo, pois no minuto seguinte lá estava Baal ainda dentro da casa de Marax olhando espantado para seu próprio corpo ou seu semicorpo a essa altura mais parecia um espectro do que um vulgo-demônio-humano).

Se à noite abrimos a porta da nossa casa, podemos receber a visita dessa que se diz bruxa e/ou de um cavalheiro ou de um salteador qualquer. Portanto é preciso precaução. Advertiu Sallos. Mas, se pudermos invocar a presença dos ** Dugpas e se conseguirmos barrar as visitas (in)desejáveis e deixar a nossa janela aberta apenas aos maus e malefícios então teremos conseguido controlar as especulações alheias, ou então teremos que chamar os outros. Acrescentou Marax (referindo-se ao Duque Dantalion e sua legião).


* (N.T) Considerando que a palavra Baphomet possua raízes árabes, especula-se também que ela seja a corruptela de Abufihamat (ou ainda Bufihimat, como pronunciado na Espanha), expressão moura para "Pai do Entendimento" ou "Cabeça do Conhecimento". Se nos lembrarmos das acusações movidas contra os Templários, de que eles adoravam uma "Cabeça", veremos nesta hipótese algo plausível de ser aceito. A figura de Baphomet que se tornou mais famosa, servindo de principal referência para os ocultistas atuais, é mesmo aquela cunhada no século 19 pelo Abade Alfonse Louis Constant, mais conhecido pelo nome Eliphas Levi Zahed, ou simplesmente Eliphas Levi.

** Dugpas eram magos negros. A própria Mestra Blavatsky e suas pesquisas mais aprofundadas revelou que os Dugpas (Druk-pa, Dugpa, Brugpa, Dag dugpa ou Dad dugpa) são tidos como os mais versados em feitiçaria e ritos tenebrosos. Habitam o Tibet Ocidental e o Butão, e, por incrível que pareça, os comunistas chineses não mexem com eles... Todos eles são Tântricos, e se supõe que praticam a pior forma de magia negra. Alguns ritualistas, como Mircea Eliade, que visitaram as fronteiras do Tibet confundiram os ritos e práticas dos Dugpas com as crenças religiosas dos Lamas orientais.

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